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Porque o Porto A.S. 1829 Hotel se chama assim

agosto 18, 2020 9:40 am

Um nome é uma palavra que dá identidade a uma pessoa ou um objeto. A partir do dia em que ele é escolhido para alguma coisa ou alguém a respetiva história começa a ser escrita. A origem do nome do primeiro hotel no Porto (e até à data o único) do grupo Lux Hotels está relacionada com o edifício onde ele se insere. Neste prédio de beleza arquitetónica indiscutível, com uma fachada de azulejos azuis, da cor do céu, que é um chamariz para todos os transeuntes, nasceu a papelaria Araújo & Sobrinho (A.S.), em 1829. 

Fotografia: viagensa4

A localização é ideal, no centro do Porto, junto ao Largo de São Domingos e à emblemática Rua das Flores que voltou a ter vida com o turismo, como talvez não tivesse tido desde o século XIX. Era conhecida como a rua dos mercadores e a Meca do Romantismo. 

Quando o grupo Lux Hotels pegou neste projeto, “fazia todo o sentido manter o nome ligado à história do local. Trata-se de um boutique hotel temático, como poucos em Portugal, que valoriza a importância do imóvel. Veio revitalizar um edifício de grande valor arquitetónico e patrimonial.  Começou como “Armazém de Papel ao Murinho de S. Domingos” e viria a transformar-se numa das mais importantes e conceituadas papelarias do país – Araújo & Sobrinho. Atualmente, uma das mais antigas da Europa, figurando na mesma família há já cinco gerações”, lê-se em arquivo.  

A Araújo & Sobrinho iniciou a sua atividade com a venda de papel e alguns finos importados de Inglaterra, para dar resposta à procura dos clientes ingleses do século XIX, que eram muitos na cidade devido ao comércio do vinho do Porto.  Na altura a escrita era o principal meio de comunicação e a aposta foi mais do que ganha. O que começou com uma pequena papelaria de bairro, fundada por dois familiares, evoluiu para um prédio inteiro e com um negócio a crescer, como narra Henrique Araújo. 

O grande crescimento para oficinas próprias de tipografia, encadernação e carpintaria culminou com a conquista de representações exclusivas de grandes marcas internacionais, como de máquinas de escrever e outros equipamentos de escritório. No ano em que o grupo Lux Hotels começou a trabalhar no projeto a ideia de hotel-museu era apenas um esboço, mas em 2015 com a abertura oficial do hotel esse pensamento concretizou-se. Agora, a história convive dentro do mesmo espaço com o presente e pisca o olho ao futuro. No edifício, entram e saem turistas de várias nacionalidades, para dormir (num dos 41 quartos de charme)  e comer (no espaço de restauração do hotel, Galeria do Largo, uma montra para o Largo de São Domingos, com a sua fachada lateral em vidro e esplanada). 

Ao entrar no hotel, o visitante inicia uma viagem ao passado, através da exposição de mobiliário e objetos pertencentes ao espólio (pintura, material escolar e de escritório, publicidade, fotografias, postais, prémios, livros, miniaturas para exposição, móveis, documentação e vestuário) de há quase 200 anos, distribuídos por 4 pisos. Além de observar apenas, poderá comprar objetos da papelaria Araújo & Sobrinho. A loja-boutique permanece em frente à receção.

Assim como o mobiliário foi preservado, o símbolo da papelaria original, um  cavalo marinho, também foi aproveitado para a imagem do boutique, atribuindo-lhe mais personalidade com os traços históricos. 

“O meu avô disse que precisava de um símbolo e o inglês olhou assim para o lado e estava um monte de cavalos marinhos secos. Eram importados de Inglaterra e considerados um símbolo de honestidade, trabalho e retidão”, conta Henrique Araújo. Quando voltar a dizer o nome do hotel, lembre-se desta história e não o esquecerá mais. 

Anabela Oliveira

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